ARTIGO
Relatos de Paulo Helder Martins e Padre Gilson Ferreira Santana.
Agora, na primeira semana do mês de julho de 2024, fazem 40 anos que foi construída em mutirão a chamada Vila Mutirão em Niquelândia. Essas vilas foram também construídas em mais 146 cidades do Estado de Goiás e algumas cidades do hoje Estado do Tocantins. O Programa Mutirão da Moradia foi um programa de moradia popular implantado na gestão do então Governador Iris Rezende. Através da extinta CODEG (Companhia de Desenvolvimento do Estado de Goiás), presidida pelo Engenheiro Eurico de Godoi, foram implantados conjuntos habitacionais nas cidades da região metropolitana de Goiânia, nas cidades do entorno de Brasília e nas cidades polos das diversas regiões do Estado, utilizando o sistema de construção pré-moldado.
Niquelândia inicialmente estava excluída dos critérios definidos (não estava na região metropolitana de Goiânia, nem no entorno imediato de Brasília e nem era cidade polo de nenhuma das mesorregiões). Foi durante uma das audiências do Governo Itinerante em Uruaçu que o então Prefeito Joaquim Tomás, usando a força política do então Deputado Frederico Jayme, conseguiu incluir Niquelândia no Programa Mutirão da Moradia, tirando a cidade de Orizona do referido programa.
O Programa Mutirão da Moradia consistia na construção das placas pré-moldadas pela CODEG, que também adquiria as telhas de fibrocimento e as caixas d’água, do mesmo material, além de fornecer material elétrico e hidráulico suficiente para cada casa. Cabia às prefeituras a doação e limpeza do terreno, bem como o transporte dos materiais da área operacional da CODEG, localizada na saída de Bela Vista. As prefeituras ofereciam ainda um engenheiro para ser capacitado na produção das casas. No caso da prefeitura de Niquelândia, minha família foi envolvida na construção da Vila Mutirão do começo ao fim do programa.
Com a autorização do então Governador para a construção de 77 casas, o Prefeito Joaquim Tomás procurou um terreno para construí-las. Reuniu-se com os vereadores em busca do terreno. O escolhido inicialmente foi o terreno onde hoje está o bairro Park Residencial Sol Nascente, que era a Chácara Planalto, de propriedade do meu pai. Como tinha 10 alqueires, daria para implantar a Vila Mutirão e o loteamento pretendido. Consultado o então Procurador Geral Dr. Agricio Martins Borges, o negócio seria impedido pela minha condição de filho do proprietário e vereador, já que a autorização legislativa teria que passar pela Câmara Municipal.
Pensou-se em negociar com Roberto Lima, dono do Loteamento Jardim Atlântico, porém o preço por ele pedido era muito caro e a cidade ficaria em forma de linguiça, longa e com os moradores muito distantes da área central. Finalmente, pensou-se no terreno da antiga Chácara de Manuel de Souza Dourado, o Douradinho, contíguo ao recém-construído Centro Esportivo Ary Ribeiro Valadão Filho e que já contava com uma rede elétrica trifásica instalada.
Havia um impedimento: Douradinho tinha sido candidato a Vice-prefeito na chapa adversária e ninguém presente tinha amizade suficiente para propor o negócio, temendo que ele, sendo adversário, não quisesse vender a área. Lembrei-me da amizade e do companheirismo que por 18 anos meu pai teve com Douradinho no antigo MDB. Propus o nome do meu pai para fazer a intermediação. Sem hesitar, assim que recebeu por telefone essa incumbência, meu pai se dispôs a executá-la. Saiu de sua loja, foi à loja de Douradinho e o levou ao Gabinete do Prefeito. Declarando-se um homem de negócios antes de ser político, e em deferência à longa amizade que o unia ao meu pai, realizou a negociação.
O Dr. Agricio Martins Borges, então Procurador Geral, ficou encarregado de fazer o contrato de compra e venda, que seria submetido ao Sr. Manuel de Souza Dourado e à autorização legislativa que seria submetida à Câmara Municipal antes da assinatura do referido contrato. Concluídos os trâmites internos, a escritura foi lavrada e uma cópia autenticada foi enviada à CODEG, que imediatamente autorizou a entrada do meu irmão Luiz Alberto Martins, engenheiro recém-formado e então Secretário de Viação e Obras, na capacitação oferecida pela CODEG.
Chegando em Niquelândia, ele iniciou os trabalhos de limpeza e demarcação dos lotes, abertura das ruas, sinalização de toda a área e liberou quatro caminhões que, em oito viagens, trouxeram todo o material. O mutirão foi marcado para o primeiro domingo de julho de 1984, e as noites que antecederam a chegada do Secretário de Viação e Obras foram de reuniões com as pessoas, empresas e entidades envolvidas na realização do mutirão.
Fez-se a divisão das 77 casas para 40 pessoas, entidades e empresas diretamente envolvidas na construção, bem como empresas e entidades envolvidas na comunicação (eu próprio), transportes (a São José do Tocantins), alimentação (a Sociedade São Vicente e as mulheres, incluindo minha mãe, esposas de secretários, vereadores, prefeito e vice), água (mulheres dos envolvidos na construção), supervisão das obras (meu irmão e engenheiros da Níquel e da Codemin), entre outros serviços.
As 77 casas foram distribuídas conforme a capacidade de cada pessoa ou empresa para o árduo trabalho: a Câmara Municipal, a São José do Tocantins, a Companhia Níquel Tocantins, a Codemim, as empresas empreiteiras das mineradoras, o CDL embrionário liderado por Deles Taveira, meu pai, o próprio Douradinho, Deraldo Alves da Luz, Sr. Humberto, Zezinho da Mercearia, Nerivaldo Correa Paes e muitos outros. Mais de 3.000 pessoas passaram pelo canteiro de obras, de alguma forma ajudando na construção. À noite, no Fantástico, a notícia: “Goianos em Mutirão constroem em um dia 1.000 casas em 146 cidades.”
Nesse dia, fui o locutor do evento, em cima de um caminhão de carroceria improvisado como palanque. Comecei a distribuir as equipes e os serviços às 5 horas da manhã, parando às 8 horas da noite. Neste palanque, recebia as equipes de construção e as distribuíamos, além de autoridades como os então deputados Joaquim Roriz (federal) e Frederico Jayme (estadual) e os engenheiros da CODEG, Flávio Henrique Cascão e Humberto Machado, hoje Prefeito de Jataí pela quarta eleição.
Assim, em 1984, foram feitas essas 77 casas de placas pré-moldadas em um dia, em nosso município e em muitos outros municípios goianos. Hoje, 2024 – 40 anos depois, esse setor das vilas cresceu. Nos dias atuais, devido ao clima, não se pensaria em casas neste formato. Mas ainda hoje temos casas do mesmo formato de 1984.
Segundo dados aproximados de 2024, temos 10 bairros agregados à vila que foi construída de placas, que hoje possui 933 casas e 5.131 pessoas. Os bairros são:
- Bairro 1: Park 7 Ouro – 4 ruas e 27 casas.
- Bairro 2: Bairro Renascer, casinhas verdes – 81 casas e 5 ruas.
- Bairro 3: Vila Canaã – 56 casas, 8 ruas.
- Bairro 4: Vila São Paulo – 69 casas, 4 ruas.
- Bairro 5: Vila Dourada – 32 casas, 6 ruas.
- Bairro 6: Vila Mutirão – inicialmente 77 casas, com 3 suprimidas para a realização de uma praça em frente à Capela São Vicente. Hoje são 74 casas e 5 ruas.
- Bairro 7: Vila São José – 88 casas e 7 ruas.
- Bairro 8: Vila São Vicente – 499 casas e 12 ruas.
- Bairro 9: Setor Regina Park – 9 casas, 4 ruas e total de 16 lotes (casas da Caixa Econômica Federal).
- Bairro 10: Reservas Ambiental dos Kalungas.
Nestes 40 anos de existência, esse setor sudoeste da cidade de Niquelândia ainda enfrenta muitos desafios, sobretudo na educação e outros benefícios sociais. No entanto, certamente temos boas realizações desses tempos, com inúmeras famílias trabalhadoras, pessoas cristãs em sua grande maioria, doutores oriundos do setor, um padre, um engenheiro mecatrônico, pessoas formadas, pastores, enfermeiros(as) e muitos outros profissionais que ajudam a cidade e o próprio bairro. Temos mais de 30 comércios no setor.
O setor das vilas ainda conta com duas escolas, uma creche, um projeto social com campo de society e complexo de aulas e recreação, idealizado pelos franciscanos conventuais (Projeto Jovens de Ouro – local do antigo abrigo), um posto de saúde, uma unidade do CRAS, uma subestação de energia, fazendas e chácaras. O complexo esportivo da cidade de Niquelândia, o Estádio Ary Valadão Filho, construído em 1982, está no centro do setor. A vila cresceu, e aos seus idealizadores nosso agradecimento, pois de forma direta ou indireta influenciaram positivamente a vida de muitas famílias e pessoas. Que venham os 80 anos com mais crescimento e benefícios para todos.
Respostas de 3
Your article helped me a lot, is there any more related content? Thanks!
Your point of view caught my eye and was very interesting. Thanks. I have a question for you.
Can you be more specific about the content of your article? After reading it, I still have some doubts. Hope you can help me.