Disputa por níquel em Goiás tem repercussão internacional

Minas de níquel exploradas pela Anglo American nas imediações da cidade de Barro Alto, (GO) - Pedro Ladeira 21.ago.2025/Folhapress

Concorrência por produto extraído no interior de Goiás gera discórdia entre empresas holandesa e chinesa; caso vai parar na Comissão Europeia e no Cade

NiqNews/Gilmar Alves

Teve grande repercussão na economia a reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo neste sábado, 24 de agosto, que trata da disputa bilionária pelo níquel brasileiro, mineral estratégico e de grande importância para a transição energética mundial.

O tema interessa diretamente aos leitores de Niquelândia e Barro Alto, municípios goianos que concentram a maior parte da produção nacional do minério. O caso envolve a venda das operações da Anglo American para a chinesa MMG e a reação de uma concorrente holandesa, a Corex Holding, que levou o assunto à Comissão Europeia e ao Cade no Brasil.

A seguir, reproduzimos o texto original da Folha de S.Paulo, assinado pelo jornalista André Borges, que mostra como a disputa local se conecta a um embate global pelo controle de um dos minerais mais cobiçados do planeta.

Barro Alto (GO) e Brasília

Na pequena Barro Alto, localizada na região norte de Goiás, o único semáforo instalado no centro da cidade parece não ter serventia. Com seus 12 mil habitantes, o município goiano segue um ritmo pacato, debaixo de um sol de 40 graus. Em nada aparenta ser o palco de uma disputa bilionária global por jazidas de níquel, um mineral crítico e estratégico para a indústria.

Barro Alto e suas montanhas do minério expõem, com fatos, os movimentos geopolíticos que têm mexido com o destino de nações como os Estados Unidos, a China, países da Europa e o Brasil.

A Anglo American, multinacional de origem sul-africana e britânica que opera na cidade desde 2004, decidiu vender no início deste ano sua planta de níquel para a MMG, um braço da estatal chinesa China Minmetals Corporation. Além da unidade de Barro Alto, entraram na negociação outra planta em Niquelândia (GO) e dois projetos novos de exploração, no Pará e em Mato Grosso.

A imagem mostra uma vista aérea de uma grande instalação industrial, com várias estruturas metálicas e edifícios. No centro, há uma construção principal com várias chaminés e janelas. Ao fundo, é possível ver uma área montanhosa e vegetação escassa. A área ao redor da indústria parece ser predominantemente árida, com algumas estruturas menores e equipamentos visíveis.
Complexo da mineradora Anglo American em Barro Alto (GO), para beneficiamento e refino de níquel – Pedro Ladeira 21.ago.2025/Folhapress

O negócio avaliado em US$ 500 milhões, o equivalente a mais de R$ 2,7 bilhões, marca a entrada da chinesa MMG no mercado brasileiro de níquel, ampliando o alcance de Pequim sobre um insumo considerado vital para a transição energética. As reações, porém, foram imediatas.

Na Europa, a transação pode virar processo em apuração pela Comissão Europeia. No Brasil, conforme informações obtidas pela Folha, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) acaba de ser acionado. Por trás de acusações de concentração de mercado e de supostas negociações duvidosas está uma concorrente holandesa, a Corex Holding.

Controlada pelo bilionário turco Robert Yüksel Yıldırım, a empresa via nas minas brasileiras o passaporte para encarar a disputa global com os chineses no mercado do níquel. Dona de plantas de ferroníquel no Kosovo e na Macedônia do Norte, a empresa depende do mercado europeu para escoar sua produção. O negócio brasileiro a traria para as Américas.

Em entrevista à Folha, Yıldırım disse que não desistiu da aquisição e afirma estar contrariado porque fez uma oferta que representava quase o dobro do valor pago pelos chineses. No entanto, não foi declarado vencedor.

“Vou ser muito honesto, meu preço foi de US$ 900 milhões [R$ 4,9 bilhões]. Coloque-se no meu lugar. Quando você dá um preço muito superior, quase o dobro do outro concorrente, espera pelo menos uma ligação explicando: ‘Yıldırım, por essas razões decidimos não vender para você, escolhemos o outro ofertante, o chinês.’ Isso não ocorreu e não sei o motivo. Eles terão de explicar”, disse o empresário.

Negócio do níquel

*Dados de 2023
Fontes: Empresas, processos na Comissão Europeia e no Cade e governo do Canadá

Na petição entregue em Bruxelas e no Brasil, a Corex afirma que a compra das unidades brasileiras pela MMG aumenta ainda mais a concentração de mercado sob controle chinês, fazendo com que ao menos 60% da oferta global de níquel fique nas mãos de empresas ligadas a Pequim.

“Essa operação ameaça a concorrência e também coloca em risco a segurança de suprimento da União Europeia”, argumentou a companhia, em sua petição.

O caso insere o Brasil em uma disputa maior. A China domina hoje o refino de minerais críticos como níquel, cobalto e terras raras, mas ainda depende de minas no exterior para alimentar suas fundições. Por isso, corre para adquirir ativos estratégicos em diferentes continentes.

A Comissão Europeia ainda não decidiu se vai abrir uma investigação aprofundada sobre a aquisição das operações brasileiras Anglo American pela MMG.

A ofensiva chinesa sobre minas e refinarias de níquel em todo o mundo, especialmente na Indonésia, tem derrubado os preços internacionais, dada a dimensão do controle asiático sobre produção e preços do insumo, que é usado na produção de aço inoxidável e baterias. Por esse motivo, a disputa no Brasil assume aspectos decisivos sobre os rumos do setor, um movimento acompanhado com lupa pela gestão de Donald Trump, nos EUA.

Na carta que enviou ao Cade, a Corex argumenta sobre a concentração de mercado. “No Brasil, as operações de Barro Alto e Codemin (Niquelândia) responderam por 62% da produção nacional de níquel em 2024. A concentração decorrente da operação é, portanto, alarmante”, afirma a empresa. Os dados da Anglo American apontam que essa fatia seria de 52%.

O Cade não comenta processos em andamento.

À Folha, a Anglo American declarou que a venda de seu negócio de níquel “faz parte da simplificação do portfólio global da companhia, que visa focar na produção de cobre, minério de ferro de alto teor e nutrientes agrícolas”.

A imagem mostra uma vasta área de mineração, com terrenos escavados e estradas de acesso. O solo apresenta diferentes tonalidades de marrom e laranja, indicando a remoção de camadas de terra. Ao fundo, há montanhas e uma paisagem verdejante, contrastando com a área desmatada e alterada pela atividade mineradora.
Minas de níquel exploradas pela Anglo American nas imediações da cidade de Barro Alto, (GO) – Pedro Ladeira 21.ago.2025/Folhapress

Sobre a escolha da oferta chinesa, a empresa declarou que “todo o processo de seleção dos interessados pelo negócio foi feito de forma rigorosa, buscando um comprador responsável” para assumir a operação. “A companhia acredita que o acordo com a MMG representa uma grande realização para os empregados, comunidades locais, acionistas e demais partes interessadas.”

Jorge de Carvalho, diretor de integração da MMG para a nova “Nickel Brazil”, empresa que vai tocar as operações dentro do grupo, disse que não há dinheiro estatal chinês na transação e que a MMG, que é estatal, está financiando a aquisição no Brasil com sua própria liquidez.

“Claro que a China Minmetals Corporation continua sendo nosso principal acionista e tem dado forte apoio a essa aquisição e à estratégia de crescimento da MMG”, declarou.

Questionado sobre como a MMG pretende lidar com questões regulatórias no Brasil, Carvalho disse que a companhia vai atender a todos os requisitos. “Nossa equipe trabalhará em estreita colaboração com os reguladores locais para compreender e responder de forma transparente a quaisquer questionamentos.”

A MMG preferiu não detalhar por que foi a vencedora da oferta. “A equipe da Anglo American é a melhor para falar sobre sua decisão e sobre quem estava competindo com a MMG pelo ativo. Na nossa visão, fazer negócio com a Anglo American foi especialmente importante, já que compartilhamos valores semelhantes.”

Arena da disputa, a pequena Barro Alto vive uma fase de expectativa. “A Anglo ajudou bastante o município a crescer, mas de uns anos para cá a cidade parou no tempo”, diz Iran Fernandes, vice-presidente da Aciaba (Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Barro Alto). “A mineração foi boa, porque tirou Barro Alto da pré-história, mas não colocou no futuro. Ficamos no meio do caminho. A MMG pode dar um F5 nisso. A gente espera que as coisas mudem.”

Fonte: Jornal Folha de São Paulo

Compartilhe nas Redes

Respostas de 10

  1. Tenho uma propriedade de 113.1ha localizada na área 4 ou 5 nao me lembro direito qual área, pretendo negociar a venda

  2. A minha percepção é que alguém está envolvido em falcatruas com o governo do Ladrão de 9 dedos e eles precisam obedecer o Ladrão, que é comunista como a China.
    Impossível o Ladrnão ter levado uma boa grana nisso.

  3. Infelizmente por mais incauto, ingênuo ou ideologicamente envolvido com as questões políticas brasileiras, nao da para isentar de forte suspeita de falcatrua com as mãos do PCC e e aquela com 9 dedos/PT.

    1. Você disse tudo, más ainda faltou dizer que esse é o projeto comunista do desgraçado do Lula em entregar o Brasil pra China e com isso está recebendo por meio de corrupção milhões e milhões de dólares depositados fora do país, possivelmente no Vaticano, aliás, essa história de Vaticano está parada, a denúncia foi feita por um padre que exercia um alto cargo naquele país, só que o Brasil como sempre fez de conta que nada aconteceu!

  4. Quando o interesse é comercial que se dane o meio ambiente
    Só quem conhece o local que aínda foi tocado
    Prá depois abandonar

  5. Concordo plenamente!! Onde tem pt, tem falcatrua!!
    Estão vendendo o Brasil pra China, diga-se, PCCh!!
    Bando de entregadores … depois vem falar em soberania!! Fdp!!

  6. se teim dois compradores avisa para um deles que em niquelandia teim uma mina de niq que quatro vezes maior duque esta de barro alto e também está aperta a venda
    outra coisa está venda e de duas empresa particular não teim nada aver com o goveno federal duas federação inglesa e chinesa lá teim seus próprios governantes

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Seu Encontro Com a Notícia
Políticas de privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.